21 de novembro de 2007

Si tu t'appelles mélancolie

Amanheceu e aquela bola gigante já mostrava a cara com sua coroa na cabeça, ia crescendo, todo orgulhoso de sua importância. Nada fazia diferença se Fulana já estava de olhos abertos em meio preto do aconchego do quarto. Levanta como sempre. Passo a passo, arrastado, vagaroso. Toma com cuidado seu café amargo, que de tão quente queima a boca. Hora de sair de casa, enfrentar o mundo, fechar os olhos, seguir a vida. Quem a acompanhava? Fulano, Ciclano, tanto fazia. Sua beleza e apego fugiram por entre seus dedos junto com Marcelo, que de qualquer um não tinha nada.
Fulana vivia algo que não era mais seu, relembrando, revivendo, ressofrendo. A dor que sentia já era amiga de tão constante. Sabia cada fala dele, olhar e o modo que a segurava - como uma borboletinha frágil e colorida. Como o beijo lembrava bala de goma e sua infância - divertida, colorida e macia. Mas sua borboleta interior já era monocromática e o riso que saía pelos olhos, havia desaparecido.
Passou o tempo do trabalho gravando movimentos que não tinham nada a acrescentar na sua vida. Voltou à sua casa. A cama desarrumada da noite mal dormida e o cheiro de alguém ainda pairando sobre o travesseiro. Fulana só não lembrava dos nomes de que ali passaram, como também da cor de seus olhos, cabelos. Somente do gosto amargo da boca, não combinando com o da sua. Tudo era Marcelo. Tudo era sua roupa combinada, relógio no pulso, pulso que não batia mais. Possuía devaneios de se perder em que tempo estava. Passado, presente, futuro. Que futuro? Era despida de sentimento como uma cobra que troca de pele deixando a antiga para trás, dentro de uma caverna, escura, úmida e esquecida. Antes de se machucar com mais um suspiro abafado pela monotonia do dia, foi à cozinha, pegou uma faca e acabou com a história de uma fulana, escrita a lápis, com erros, riscos e amassos.

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