29 de novembro de 2007

Vem pra essa Avenida

O que se fazer quando se quer algo que não pode se ter? Eu sei, eu sei, é muito normal de se falar isso. Mas eu digo querer algo que não é comum, não é palpável, muito menos está a venda no mercadinho da esquina. Atenção. Ensina-se em escolas que a soma dos catetos ao quadrado é igual a hipotenusa ao quadrado, que Napoleão era considerado louco por sua vontade de conquista e que transitividade não pode ser direta e indireta ao mesmo tempo. Falta vocabulário para ensinar que não deve-se se jogar em um rio antes de saber sua profundidade. Nem que se tu te mexeres muito rápido poderás ficar tonto. Mudem essa postura de inibir a mente de uma criança. Quem definiu que verde não combina com roxo, amarelo e marrom? Deixa ser, como será. Aquela cabeça virar carnaval, afinal ela deverá passar o resto da vida presa àquele corpo que não voa no ritmo dela. Deixa o confete misturar com a comida para tudo virar festa ao entrar naquele corpo. Põe em exposição pensamentos e sonhos sem cobrar nada em troca - e no final, acaba-se tendo o que não se queria, de uma maneira totalmente diferente.

25 de novembro de 2007

Dias Comuns... II

- Nós nos divertimos, não é?
Em um ambiente de luz plena, confortante como casa - por mais que não me pertencesse - e a música da rainha quebrando o silêncio do lugar, Cássia Eller e sua Luz dos Olhos.
- Muito.
- Lembra como nós íamos para o parque e achávamos potinhos para brincar fazendo bolos de areia? Será que eles ainda estão lá? No meio dos arbustos...
- Claro que não, né?! - somente as lembranças.
- Tu andavas naquele brinquedo que girava, girava, girava e eu não acompanhava, pois só de olhar ficava tonta. Bleh!
Sorria, o que mais faria? Lembranças vivas, fotos com movimentos, cores e sóis.
- Eu descia as escadas do colégio e olhava no horizonte e sempre lá estávas, sentadinha, me esperando.
- E tu querias tua mãe...
- Eu sei.
- Chorava, mas o que eu podia fazer? Só ficar do teu lado.
Com os olhos cheios de lágrimas, me resumi ao silêncio de minha boca e a multidão desgovernada dos meus pensamentos.
- Nós nos divertimos, não é?
Ambas em pé, o som era outro, o clima também. Abraçadas, rítmo a rítmo, coração com coração, queixos nos ombros, encaixe perfeito.
- Muito.
Ela me ensinou a coragem. Como subir no brinquedo mais alto e não sentir medo, só sensação de poder. Degrau por degrau, madeira, barras de ferro, "isso é proibido" disse a mãe da outra menina. Dito e feito. Criança chorando. Mas ela, ah ela, "sobe lá de novo, dessa vez tu consegues". Ela compartilhou comigo conhecimentos. O dom de observar, uma pincelada, um olhar, um sorriso e claro, como esquecer da casinha do João-de-barro? No alto dos postes de luz, entrada, sala, quarto e cozinha. Sim, ela me ensinou a imaginar.
- Nós nos divertimos, não é?
Insisti em dizer que a amava. Em um momento de fraqueza "eu também te amo, nunca precisei dizê-lo a ti". Eu sei. Tudo que acontece somos nós e nossos pensamentos que proporcionamos. "Tá tudo aqui ó... O resto é balançar os ombros que desce".
Pra que falar em fim? "Não fique triste quando eu não estiver mais aqui". Com olhos nublados e garganda engasgada com palavras, a única coisa que saiu: "Que seja eterno enquanto dure", "Ah, grande Vinícius". Com muito além de convivência, acredito e tenho em minhas mãos o maior tesouro do mundo: o amor de uma avó.

Conjugação Vivencial

Eu jogo
Tu ganhas
Ele canta
Nós vivemos
Vós sonhais
Eles julgam

21 de novembro de 2007

Dias comuns...

- Andei falando com teu pai, não briga com ele. Ele te quer tão bem...
- Segunda vez que falas isso, Vó. O que estás insinuando?
- Nada, ele só me disse que andas indo em lugares.
- Vó, é um bar. Não tem nada demais, tu conheces o pai, se coloca algo na cabeça, não tira nunca. Tá parecendo eu, até...
- Só promete não brigar com ele mais. É que és uma pérola, ou um brilhante... Qual vale mais? Qual preferes ser?
- Prefiro ser Luana.
- Luana, Luana, LUA. Lua crescente, minguante...?
- Cheia.
- Oh, viu, quase fizemos um poema. Olha, o carro chegou, tô atrasada pra aula de pintura. Te amo.
- Também te amo... demais.

Si tu t'appelles mélancolie

Amanheceu e aquela bola gigante já mostrava a cara com sua coroa na cabeça, ia crescendo, todo orgulhoso de sua importância. Nada fazia diferença se Fulana já estava de olhos abertos em meio preto do aconchego do quarto. Levanta como sempre. Passo a passo, arrastado, vagaroso. Toma com cuidado seu café amargo, que de tão quente queima a boca. Hora de sair de casa, enfrentar o mundo, fechar os olhos, seguir a vida. Quem a acompanhava? Fulano, Ciclano, tanto fazia. Sua beleza e apego fugiram por entre seus dedos junto com Marcelo, que de qualquer um não tinha nada.
Fulana vivia algo que não era mais seu, relembrando, revivendo, ressofrendo. A dor que sentia já era amiga de tão constante. Sabia cada fala dele, olhar e o modo que a segurava - como uma borboletinha frágil e colorida. Como o beijo lembrava bala de goma e sua infância - divertida, colorida e macia. Mas sua borboleta interior já era monocromática e o riso que saía pelos olhos, havia desaparecido.
Passou o tempo do trabalho gravando movimentos que não tinham nada a acrescentar na sua vida. Voltou à sua casa. A cama desarrumada da noite mal dormida e o cheiro de alguém ainda pairando sobre o travesseiro. Fulana só não lembrava dos nomes de que ali passaram, como também da cor de seus olhos, cabelos. Somente do gosto amargo da boca, não combinando com o da sua. Tudo era Marcelo. Tudo era sua roupa combinada, relógio no pulso, pulso que não batia mais. Possuía devaneios de se perder em que tempo estava. Passado, presente, futuro. Que futuro? Era despida de sentimento como uma cobra que troca de pele deixando a antiga para trás, dentro de uma caverna, escura, úmida e esquecida. Antes de se machucar com mais um suspiro abafado pela monotonia do dia, foi à cozinha, pegou uma faca e acabou com a história de uma fulana, escrita a lápis, com erros, riscos e amassos.

19 de novembro de 2007

Íris

Sentado nesta praia - que me parece tão familiar entre tantas maneiras - observo meus pés pairando sobre a areia branca em contraste de pureza e cansaço. Sigo a linha do horizonte e me deparo com o mar, sempre tão sozinho em meio da multidão de peixes e humanos, fazendo a ligação entre dois mundos que nunca deveriam se encontrar por motivos de belezas tão distintas. Sua solidão e suas lágrimas de diamante coincidem com meus pensamentos e minhas palavras de pseudo-escritor. Esta folha branca e repleta de esmo grita, chora por pinceladas de vida - meia vida, minha vida. Em meio ao conflito de histórias, sentimentos, desculpas que poderiam ser jogadas naquele livro sem fim, sou invadido por uma quebra de silêncio na bolha em que havia me posto mais uma vez. Olho para a direita e vejo aqueles pés retraindo-se na areia e subo mais um pouco descobrindo joelhos envergonhados escondendo-se atrás da barra do vestido azul-piscina que voava em harmonia com o vento - não mais cortante. Seu rosto? Enigmático. Mas seus olhos, ah seus olhos. Aquele par de olhos era capaz de nocautear o sol.

9 de novembro de 2007

BláBláBlá's

Me chamaram de inconveniente por não aceitar certas coisas e não ficar calada. Esqueceram a parte da inconvenicência que foi aprender a ser inconveniente. De como deve-se se acostumar a baixar a cabeça e absorver informações contrárias às tuas. Não obstante dos ensinamentos de pais, eles cobram a diferença entre seu tratamento e o de restante de uma raça - esquecendo que eles não diferenciam a ti e qualquer outro com interesses maiores. Agora, a inconveniência de ser inconveniente releva qualquer pedido diferenciado a ti (plus) a decepção de não caber no molde feito em suas cabeças ao ver seu filho nascer. É demais, não? Não conseguem conviver com tal desrespeito, sendo tão fácil desrespeitar com pequenas ações e palavras. Talvez até a menininha loira de cachos longos, sempre calada, sempre 'pode ser', que agora se tornou Alguém com personalidade - nem que seja alguma - e thanks god com opiniões formadas, seja o que sonharam. Se ela não segue o livro 'Forme um filho perfeito em três simples passos', talvez seja hora de rever seus conceitos.

6 de novembro de 2007

cada sensación se proyecta la vida

Domingo eu tive a oportunidade de vivenciar uma das coisas mais indiscritíveis até agora - pra mim. Pular de pêndulo me fez pensar em muitos detalhes. O modo de como eu me voluntariei para ser a primeira em meio a tantos homens 'formados'. Essa sede de experimentar que me leva e me perde tantas vezes, é de se estudar. Colocado o equipamento e passado para o lado 'livre' da ponte já sentia meu coração acelerar, já se passava algum tempo desde a última vez que presenciei esse nervosismo. O nervosismo de se jogar 'de cabeça' (seria assim se não tivessem me impedido) em algo. Até ali e mais um pouco era tudo que dependia de mim, faltava literalmente o passo final. O que me libertaria. Estranho foi ter que se desapegar de algo tão concreto, não tenho oportunidade de fazer isso muitas vezes - por ter várias coleções de lembranças e nenhuma coragem de mexer nelas. E ali eu estava, soltando dedinho por dedinho com anseio de abrir minhas asas e voar. Muitos pensamentos em segundos, as vozes abafando, fui. E quem disse que eu queria voltar?
Vento no rosto, raios solares penetrando nos meus olhos, a atmosfera livre ultrapassando o pano que cobria meu corpo - liberdade momentânea. Enquanto a força ainda me embalava de um lado para o outro, me virei para o horizonte e lá estava ele - o Sol. Percebi que posso ter uma brexa paralisada nos meus segundos mas sei que não posso fugir do presente. Em uma sensação de morfina fazendo efeito, fui levada de volta para civilização. Com um sorriso no rosto tirando um peso da alma.