14 de dezembro de 2007

Com licença, posso usar tuas palavras?



" ...estou procurando, estou procurando. Estou tentando entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. Não confio no que aconteceu. Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não saber como viver, vivi outra? A isso queria chamar desorganização, e teria a segurança de me aventurar, porque saberia depois para onde voltar: para a organização interior. A isso prefiro chamar desorganização pois não quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro. "



LISPECTOR; Clarice

Introspecção

O que mata uma pessoa?

7 de dezembro de 2007

Roubo Consciente

Distraída em frente ao computador, a menina digitava entretida com novidades, fofocas, risadas momentâneas. Tirou o fone do ouvido – que a separava do resto do mundo – por ter tido a impressão de escutar algo. Lembrou ter deixado a porta que ligava sua cozinha aos fundos de sua casa aberta. Pensou ainda que podia ser nada, mas como sua mãe já havia advertido resolveu ir trancá-la. Olhou para os dois lados do pátio pra ver se não achava algum movimento estranho, mas nada. Trancou a porta e saiu pensando e rindo. “Imagina se ele já tivesse entrado aqui, e eu o tranquei do lado de dentro”. Mal sabia a menina que seu maior inimigo já estava ali dentro desde o princípio – ela mesma.

6 de dezembro de 2007

Já levanta com o rosto de cansaço, usado pelo tempo, herói da minha vida. Mãos gastas pelo trabalho, pele de pergaminho contando histórias inesquecíveis presas no passado - ou passados, secretos. Depois de horas sobre a cama, sem descansar um olho, quanto mais dois, decide levantar e ir aprontando o caminho para os outros pisarem. Café preto feito tinta.
- Como consegues, pai?
- Costume, costume. Tu começas a gostar do amargo.