25 de novembro de 2007

Dias Comuns... II

- Nós nos divertimos, não é?
Em um ambiente de luz plena, confortante como casa - por mais que não me pertencesse - e a música da rainha quebrando o silêncio do lugar, Cássia Eller e sua Luz dos Olhos.
- Muito.
- Lembra como nós íamos para o parque e achávamos potinhos para brincar fazendo bolos de areia? Será que eles ainda estão lá? No meio dos arbustos...
- Claro que não, né?! - somente as lembranças.
- Tu andavas naquele brinquedo que girava, girava, girava e eu não acompanhava, pois só de olhar ficava tonta. Bleh!
Sorria, o que mais faria? Lembranças vivas, fotos com movimentos, cores e sóis.
- Eu descia as escadas do colégio e olhava no horizonte e sempre lá estávas, sentadinha, me esperando.
- E tu querias tua mãe...
- Eu sei.
- Chorava, mas o que eu podia fazer? Só ficar do teu lado.
Com os olhos cheios de lágrimas, me resumi ao silêncio de minha boca e a multidão desgovernada dos meus pensamentos.
- Nós nos divertimos, não é?
Ambas em pé, o som era outro, o clima também. Abraçadas, rítmo a rítmo, coração com coração, queixos nos ombros, encaixe perfeito.
- Muito.
Ela me ensinou a coragem. Como subir no brinquedo mais alto e não sentir medo, só sensação de poder. Degrau por degrau, madeira, barras de ferro, "isso é proibido" disse a mãe da outra menina. Dito e feito. Criança chorando. Mas ela, ah ela, "sobe lá de novo, dessa vez tu consegues". Ela compartilhou comigo conhecimentos. O dom de observar, uma pincelada, um olhar, um sorriso e claro, como esquecer da casinha do João-de-barro? No alto dos postes de luz, entrada, sala, quarto e cozinha. Sim, ela me ensinou a imaginar.
- Nós nos divertimos, não é?
Insisti em dizer que a amava. Em um momento de fraqueza "eu também te amo, nunca precisei dizê-lo a ti". Eu sei. Tudo que acontece somos nós e nossos pensamentos que proporcionamos. "Tá tudo aqui ó... O resto é balançar os ombros que desce".
Pra que falar em fim? "Não fique triste quando eu não estiver mais aqui". Com olhos nublados e garganda engasgada com palavras, a única coisa que saiu: "Que seja eterno enquanto dure", "Ah, grande Vinícius". Com muito além de convivência, acredito e tenho em minhas mãos o maior tesouro do mundo: o amor de uma avó.

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