28 de junho de 2007

Frustração

Ele estava falando. O telefone tocando. Promessas falsas. O cachorro latindo. Meu Deus, ele estava indo embora. O telefone tocando. Ele parou. Esperando que eu falasse algo. Não conseguia falar. Que culpa eu tinha? Seu rosto expressava algo. Eu não sabia bem o quê. O cachorro latindo. Ele ia em direção ao carro. A droga do telefone tocando. Ele fez menção de falar algo, hesitou. Eu parada. Retomou, disse que seria difícil. Promessas falsas. Ele tirou a chave do bolso. Eu parada. Cada passo se arrastava. O tictac do relógio cada vez mais alto. O telefone parou. O cachorro continuava a infernizar. Corri. Sem nem me importar se tinha pisado nas margaridas que tanto cultivei. Parei centímetros de seu rosto. Na verdade, nossos narizes quase se tocavam. Essa distância poderia ser medida por milímetros e sentida por oceânos. Me abraçou. O tictac de repente parou. Senti algo escorrendo meu pescoço - lágrima ou nervosismo? "Eu te amo". Promessas falsas. O larguei. Ele também não me prendeu. Que culpa eu tinha? Acabei me afogando naqueles oceânos. Pelo menos o cachorro não latia mais...

26 de junho de 2007

Mots...

Depois de tanto tempo sem olhar aqueles olhos – duas pupilas pretas de uma profundidade absurda – ousou mexer a boca para tentar colocar para fora aquelas palavras que já tinha decorado de tanto passarem como letreiros em sua cabeça. Não saíram, fugiram. De repente a armadura do cavaleiro feita de metal passou para um simples e fino tecido que moldava seu corpo. Os braços fortes já não tinham força para segurar a espada e se defender do que poderia vir. Acabou rendendo-se. Rendendo-se àquele sorriso inocente, onde ao mesmo tempo reside certa maldade. Já conhecia aquela boca, e como! Lembrava de ficar olhando, admirando enquanto a dona dormia. Decorando cada cantinho, o modo como se retraía em momentos de nervosismo e por conseqüência formava uma covinha no lado direito de sua face – mas só uma, o que a tornava mais única. Mas não adiantava, aqueles olhos sempre acabavam por ser a mira de seu olhar. Maldita curiosidade que não o deixava dormir por não entender o porquê de formar um franzidinho do lado deles ao sorrir. Tantas lembranças que ela aparecia, com o seu rosto estampado em cada ponto de interrogação na sua cabeça. Agora ela estava ali, na sua frente, e ele se sentindo nu devido a força de seu olhar. Ela o abraçou depois de fitá-lo por esses segundos que pareciam horas. E aquelas palavras que se sentiam na obrigação de sair, se acalmaram...

25 de junho de 2007

(revira)volta

Muito bem podia continuar ali sentada, bebendo seu café rotineiro. Mas não hoje, hoje necessitava mudar. Levantou-se num giro só, pegou seu sobretudo preto e saiu de casa, sem ao menos se importar se os fios de seu cabelo moreno e comprido estavam no lugar. Nevava lá fora, mas pouco importava, que vento gelado poderia machucar seu coração já petrificado? Ouviu a portar bater, que satisfação sentiu. Cada passo para longe era menos um peso na suas costas, na sua cabeça que parecia mais uma infinidade, que tanto espaço tinha para caber cada vez mais pensamentos? Deu o primeiro passo para dentro da estação, parou, observou. Imaginava o que cada pessoa pensava, seus deveres, o que tantos olhares vagos estavam vendo. Continuou a caminhar, sempre em direção a algo. O que, não sabia ao certo. Entrou no metrô, pela primeira vez reparou que na janela do lado do seu lugar, o lugar que sempre sentava, estava trincado. Reparou o amor entre o casal de velhinhos sentados à sua frente. Reparou que o menininho tinha uma mancha na sua mochila. Imaginava o porquê de tudo aquilo. Notou a música do momento, "Quelqu'un M'a Dit", logo ela que sempre gostou de francês, aquelas palavras retumbavam na sua cabeça "...dizem que nossas vidas não são grande coisa, que passam em um momento...". Em meio de seus pensamentos, ouviu a gravação dizendo que haviam chegado em uma das paradas, pensou em se levantar, mas hesitou. Talvez o próximo ponto poderia trazer alguma novidade, algo diferente. Virou-se para a janela e resolveu memorizar tal paisagem, tudo branco, tudo neutro. Engraçado como branco sempre havia lhe dado idéia de grandiosidade. E ficou ali, observando, visualizando casebres até eles se tornarem pontinhos minúsculos. Deparou-se com um sorriso nos lábios, enfim livre - talvez livre. O que a próxima parada traria? Que olhos ela enxergaria? Encontraria nos de alguém as respostas da perguntas ainda não formuladas? Bastava esperar, esperar ansiosamente. Esperar, mas... qual seria o momento certo para arriscar? Aquele pé atrás adora sempre aparecer nas horas mais inoportunas. Acabou que chegou na parada final, e pegou o metrô de volta. Já era noite, mas o branco das ruas iluminavam de alguma forma o caminho. Vinha olhando para o chão. Pegou sua chave no bolso e lembrou de quando havia comprado aquele chaveiro de bola oito - "era pra trazer sorte", pensou ela. Olhou em direção a porta e lá estava ele, com cara de tresnoitado, os olhos fixos na carta que tinha nas mãos. Teria esperado demais para descer?