25 de junho de 2007

(revira)volta

Muito bem podia continuar ali sentada, bebendo seu café rotineiro. Mas não hoje, hoje necessitava mudar. Levantou-se num giro só, pegou seu sobretudo preto e saiu de casa, sem ao menos se importar se os fios de seu cabelo moreno e comprido estavam no lugar. Nevava lá fora, mas pouco importava, que vento gelado poderia machucar seu coração já petrificado? Ouviu a portar bater, que satisfação sentiu. Cada passo para longe era menos um peso na suas costas, na sua cabeça que parecia mais uma infinidade, que tanto espaço tinha para caber cada vez mais pensamentos? Deu o primeiro passo para dentro da estação, parou, observou. Imaginava o que cada pessoa pensava, seus deveres, o que tantos olhares vagos estavam vendo. Continuou a caminhar, sempre em direção a algo. O que, não sabia ao certo. Entrou no metrô, pela primeira vez reparou que na janela do lado do seu lugar, o lugar que sempre sentava, estava trincado. Reparou o amor entre o casal de velhinhos sentados à sua frente. Reparou que o menininho tinha uma mancha na sua mochila. Imaginava o porquê de tudo aquilo. Notou a música do momento, "Quelqu'un M'a Dit", logo ela que sempre gostou de francês, aquelas palavras retumbavam na sua cabeça "...dizem que nossas vidas não são grande coisa, que passam em um momento...". Em meio de seus pensamentos, ouviu a gravação dizendo que haviam chegado em uma das paradas, pensou em se levantar, mas hesitou. Talvez o próximo ponto poderia trazer alguma novidade, algo diferente. Virou-se para a janela e resolveu memorizar tal paisagem, tudo branco, tudo neutro. Engraçado como branco sempre havia lhe dado idéia de grandiosidade. E ficou ali, observando, visualizando casebres até eles se tornarem pontinhos minúsculos. Deparou-se com um sorriso nos lábios, enfim livre - talvez livre. O que a próxima parada traria? Que olhos ela enxergaria? Encontraria nos de alguém as respostas da perguntas ainda não formuladas? Bastava esperar, esperar ansiosamente. Esperar, mas... qual seria o momento certo para arriscar? Aquele pé atrás adora sempre aparecer nas horas mais inoportunas. Acabou que chegou na parada final, e pegou o metrô de volta. Já era noite, mas o branco das ruas iluminavam de alguma forma o caminho. Vinha olhando para o chão. Pegou sua chave no bolso e lembrou de quando havia comprado aquele chaveiro de bola oito - "era pra trazer sorte", pensou ela. Olhou em direção a porta e lá estava ele, com cara de tresnoitado, os olhos fixos na carta que tinha nas mãos. Teria esperado demais para descer?

Um comentário:

BLOPES, Lara disse...

lindo lindo. bem-vinda ao mundo dos blogs.
te amo te amo