17 de agosto de 2013

quando menos se espera

Nossos edifícios eram um ao lado do outro. Praticamente sabia tudo que acontecia na sua vida -  pelo menos o que se passava na sala. Novos romances, fins de romances, jantas sozinha, pijama de verão, pijama de inverno, choros em frente à televisão. Assim passava meus dias, como se chegar em casa não fosse mais tão solitário por te ver do outro lado do vidro da janela. Tinha penteados que eram meus favoritos, meu sonho era saber como era tua voz. Roupas que não me agradavam muito, pois ficavas tão linda que não gostava de imaginar, apesar de querer muito saber, aonde ias. 
Te vi na festa de sábado. No primeiro momento pensei em abanar, mas eu não era tão presente na tua vida quanto tu na minha. Reacomodei todos meus amigos pra que nossa rodinha de conversa e dança vazia ficasse perto de ti. Não me concentrava em mais nada a minha volta, tudo que conseguia fazer era me deliciar com teu perfume no ar. Quando percebi teus olhos tristes me senti como se fosse meu dever fazer algo. Fui na tua direção. Te beijei. Um beijo estalado e rápido sem saber o que poderia vir logo após. Tu riu, disse que minha barba tinha te feito cócegas e passou a tua mão nela. Como eu amo teu sorriso, pensei. Ali ficamos conversando, sem se importar em apresentar os amigos e sei lá se eles até já tinham ido embora. Me contaste da cor do céu da tua cidade natal, como foi difícil crescer com pais separados, mas que aquilo fazia de ti quem tu és hoje. Rimos de histórias de porres de bebida, porres de amor. Quando nosso tempo acabou e ligaram as luzes do salão disseste: "queres dividir o táxi? moras no edifício ao lado do meu, enfim nos conhecemos pessoalmente".

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